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Devo ou Não Escrever? A Sabedoria de Rilke

Entre no silêncio da noite e pergunte-se: devo mesmo escrever? Preciso disso como preciso respirar?" — Inspirado nas Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke.

REFLEXÕES

5/8/20252 min read

Neste primeiro ensaio da série Devo ou Não Escrever?, convido-te a mergulhar comigo numa das questões mais íntimas da vida de um escritor: por que escrevemos? E sobre o quê? A partir das palavras de Rainer Maria Rilke, partilho uma reflexão essencial sobre a necessidade interior da escrita e a importância de criar a partir da nossa própria verdade.

1. Devo escrever?

A primeira pergunta que Rilke nos lança é, na verdade, um convite à introspeção: “Devo escrever?” A resposta não está fora, mas dentro de nós. Segundo Rilke, devemos questionar-nos com honestidade se escrever é uma necessidade vital — algo sem o qual não conseguimos viver.

Ele desafia-nos a fazer esta pergunta nos momentos mais silenciosos da noite: “Será que eu realmente preciso de escrever?” Se, ao refletirmos, a resposta for um claro e profundo “sim”, então a escrita deixa de ser um desejo e torna-se parte da nossa existência.

Escrever, nestes termos, não é um ato para agradar aos outros ou conquistar aprovação. É uma necessidade interior de expressar aquilo que habita em nós. Rilke lembra-nos: se pudermos viver sem escrever, talvez devamos escolher outro caminho. A criação autêntica nasce dessa urgência interior.

2. Sobre o que devo escrever?

A segunda questão que se impõe é: “Sobre o que devo escrever?” Rilke convida-nos a focar no que é verdadeiramente pessoal. Desencoraja-nos de seguir os temas já gastos ou escrever para agradar ao público. Em vez disso, propõe que olhemos para a nossa própria vida — para aquilo que sentimos e vivemos no quotidiano.

Mesmo quando a nossa realidade parece simples ou banal, o verdadeiro escritor é aquele que encontra beleza no comum. Escreve com os olhos de quem vê o mundo pela primeira vez. Não é preciso falar dos “grandes temas”, mas sim das nossas pequenas verdades.

Escreve sobre as tuas tristezas, desejos, memórias, sonhos e perdas. Fala sobre o que amas, sobre o que te marca, sobre o que desejas viver. Escreve com autenticidade. Não te preocupes com estilos, modas ou fórmulas. A escrita deve ser um espelho de ti mesmo — não uma máscara.

3. Criar o teu próprio mundo

Uma das ideias mais poderosas de Rilke é a de que o escritor deve criar o seu próprio mundo. A escrita não é mera reprodução da realidade, mas sim a construção de um universo único, alimentado pelas vivências, imaginação e sensibilidade do autor.

O escritor não deve submeter-se a modelos preexistentes, nem à validação externa. A sua missão é ser fiel à sua voz. Escrever é um acto de liberdade, uma forma de criar espaço para aquilo que é inteiramente o nosso. A obra deve nascer da sinceridade e da coragem de construir algo novo — mesmo que ainda não seja compreendido pelos outros.

4. O que Rilke nos ensina sobre a escrita?

Em suma, Rilke ensina-nos que a escrita verdadeira brota de uma urgência interior. Se sentes que não podes viver sem escrever, então sim — escreve. Não o faças para ser aceite, reconhecido ou publicado. Fá-lo porque não podes não o fazer.

A arte autêntica não depende de aplausos. Nasce da fidelidade à própria verdade. Por isso, se és escritor, pergunta-te: “Devo escrever?” e “Sobre o que devo escrever?” A resposta, quando sincera, será sempre libertadora.

Segue o conselho de Rilke: cria o seu próprio mundo, escreve o que é profundamente o teu, e deixa de lado a necessidade de validação. A verdadeira arte vem de dentro — e basta por si.

Quais são as tuas impressões ?